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segunda-feira, 30 de junho de 2014

25#Os Negros do Rosário - 1992

Disco gravado entre setembro de 1986 e 1987, nas ruas de Oliveira/MG, durante a Festa de Nossa Senhora do Rosário (Festa de Congo). Esse disco trata-se de um verdadeiro documento, apresentando um registro autentico da sonoridade do congado mineiro: Moçambiques, Catupés e Vilões.

Capa - LP - 1992
 A música e a cultura Bantu ainda hoje permanecem um mistérios para nossa gente, quer seja pelas inúmeras nações que aqui aportaram, com suas variadíssimas manifestações de religiosidade, quer seja pela presença portuguesa que já era forte em terras de Angola/Congo desde o século 16. Desde que os portugueses chegaram ao Golfo da Guiné, o cristianismo entrou lá e pegou.

Em 1533, foi criada a diocese de Cabo Verde e Guiné. Outra diocese fundada no reino do Congo já celebrou os seus 400 anos de existência, assim, muitos escravos bantos do Brasil já eram cristãos na África. Assim, muitos povos Bantu já chegaram ao Brasil catequizados, ou trouxeram suas manifestações religiosas e culturais já sincretizadas com os sistemas católicos e/ou mesmo muçulmanos e judaicos, expressos fortemente no Congado Mineiro, essa manifestação que já existia em Portugal - celebrada pelos negros - antes mesmo da descoberta do Brasil.

No Golfo da Guiné, a recepção do cristianismo não foi passiva. No reino do Congo, surgiram algumas manifestações afro-católicas. A jovem Beatrice Kimpa Vita liderava um movimento de Sto. Antônio, que africanizava o cristianismo, procurando fazer retroceder, de forma inteligente, a dominação religiosa. Ela encarnava Santo Antônio e disse que Jesus e muitos santos nasceram no Congo. Beatrice foi condenada pela inquisição e morreu na fogueira, em 1706. Curiosamente, no Brasil, encontramos Luiza Pinta, escrava de Angola e devota de Santo Antônio em Sabará (MG), que foi torturada pela inquisição, em Lisboa no ano de 1742. Quem sabe, a Luiza tenha pertencido ao movimento da Beatriz? E quem sabe, o sincretismo de Santo Antônio com as divindades guardiãs (os Njilas, Baras e Exus), não tenha se iniciado já na África e não no Brasil, assim como outras divindades Jeje e Yorubás?

Em 1526, já havia na ilha de São Tomé a irmandade dos "Homens Pretos". Outras irmandades do Rosário existem no Congo, na Angola e em Moçambique, desde o séc.XVII. Antes de 1552, já existia no Brasil uma irmandade para os escravos da Guiné, segundo Frei Odulfo van der Vat e outros historiadores. Em 1610, o rei do Congo entrou na irmandade do rosário fundada por Fr. Lourenço O.P., em Mbanza, capital do Reino do Congo. Assim, as irmandades do rosário surgidas no Brasil, não vieram só da Europa, mas também da África. Provavelmente, houve escravos africanos que já vieram para cá como irmãos do rosário. E como Nossa Senhora do Rosário entrou na devoção dos negros, em Portugal, na África e no Brasil? Uma lenda contada em todas as irmandades coloca a Senhora do Rosário como sendo a origem do congado (assim, há que se verificar as origens de cultos no Brasil, tais como o Omolokô, que têm relação profunda com as festas do Congado Mineiro).
Capa - CD - 1998

A irmandade do rosário (dos brancos) fundada na Alemanha em 1409, chegou a Lisboa em 1478. A mais antiga menção a uma “Confraria de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos” encontramos em 14 de julho de 1496, portanto quatro anos antes da chegada dos portugueses ao Brasil. Esta informação consta num alvará dado à dita confraria, sita no mosteiro de S. Domingos de Lisboa, "para poderem dar círios e recolher as esmolas nas caravelas que vão à Mina e aos rios da Guiné". Para quem gosta de comprovações acadêmicas, encontra-se este importante documento no Arquivo Nacional da Torre do Tombo em Lisboa: Confirmações Gerais, L.2 fls.107v.-108.

Chegando aqui, os Lunda, Kassange, Kongos, Angolas, Moçambique e tantos outros, ao se relacionarem com seus aparentados sudaneses fizeram uma nova conexão cultural, que resultou nas várias formas de culto e musicalidade que vemos hoje no país. Um exemplo disso é a faica de abertura do disco, onde se ouve na voz de dona Lourdes, um dialeto curioso, onde a mistura de Yorubá, Umbundo além de palavras em Tupi e Português resulta numa sonoridade suave e tão brasileira que dá gosto de ouvir. Os tambores são executados em células simples, mas com um peso hipnótico, sendo tocados por horas a fio, talvez lembrança das festas intermináveis dos povos Lunhaneka e Kikongo.

Fonte: Acervo Ayom

Lado A:
01 – Moçambique de Nsra das Mercês
02 – Moçambique de São Benedito
03 – Catupé de Nsra do Rosário
04 – Catupé de São Benedito
05 – Moçambique de Santa Efigênia, Catupé de Nsra das Mercês
06 – Moçambique de Santa Efigênia, Catupés de Nsra do Rosário e Santa Efigênia
07 – Catupé de São Benedito

Lado B: 01 – Moçambique de Nsra Das Mercês
02 – Vilão de Nsra. Aparecidade
03 – Catupé de N.Sra. do Rosário (Bairro da Graça)
04 – Catupé de N.sra. do Rosário (Rua da Preguiça)
05 – Moçambique de N.Sra. Aparecida
06 – Vilão de N.Sra. do Rosário
07 – Moçambique de N.Sra. do Rosário






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